segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Nova espécie de ave migratória é registrada na cidade de São Paulo

Indivíduo de maçarico-pintado Actitis macularius 
registrado no PE do Tietê em 2006 (sobre a pedra). 
Foto: Gilberto Lima.
(Os visitantes de inverno já se foram e agora, a cidade recebe os visitantes do verão)
Retornei para São Paulo no sábado retrasado e no primeiro dia de folga na cidade (30/09), fui realizar a contagem de setembro do monitoramento de aves aquáticas e migratórias que faço na região da represa do Guarapiranga e do Parque Ecológico do Tietê. 

Desta vez convidei o Marco Antonio Rêgo, um amigo do Museu de Zoologia da USP para me acompanhar na contagem. 

Fomos direto para a região da várzea do Rio Embu-Mirim, localizada próxima da cidade de Embu, por lá, registramos pela primeira vez na Bacia do Guarapiranga um grupo com aproximadamente 12 maçaricos-pintado Actitis macularius que até então não haviam sido registrados na região. Os únicos registros desta espécie para a região sul da cidade eram “duvidosos” e o primeiro registro documentado deste maçarico para o município de São Paulo foi feito em 2006 durante uma das etapas do Censo Neotropical de Aves Aquáticas (CNAA), realizado na cidade pela equipe do CEO.
Após a contagem no Embu fomos para o Parque Ecológico do Tietê e lá chegando nos deparamos com um grupo de maçaricos-de-perna-amarela Tringa flavipes e entre estes, dois maçaricos “diferentes” que nunca haviam sido registrados neste trabalho de monitoramento. Como estávamos sem as câmeras fotográficas profissionais, resolvi fazer algumas fotos com uma câmera digital compacta, para garantir o registro.

Observamos os maçaricos por um bom tempo e depois fomos embora. Chegando em casa, tratei logo de comprar alguns filmes e na mesma tarde, sem perder muito tempo, retornei para o PE do Tietê para fazer novas imagens do registro, desta vez com a câmera e lente apropriadas. Consegui fazer as imagens, apesar da pouca luz e distância das aves, que neste horário, estavam se alimentando em outra margem da lagoa. Voltei para casa mais aliviado, pois sei da importância de se registrar estas aves migratórias no momento da primeira observação, pois elas podem levantar vôo e continuar sua viagem a qualquer momento, dificultando novos registros em dias posteriores.
Consultando a literatura fiquei em dúvida com relação à identificação correta destes maçaricos, pois este grupo de ave apresenta uma variação complexa de plumagem (inverno, verão, descanso reprodutivo, etc). A princípio pensei ser indivíduos de maçarico-branco Calidris alba, mas o bico era muito fino e comprido para ser esta espécie.

Os dois indivíduos do pisa-n'água Phalaropus tricolor separados por um maçarico-de-perna-amarela Tringa flavipes (localizado no centro)
Consultei alguns exemplares do MZUSP e comecei a desconfiar desta pré-identificação. Logo percebi que estes maçaricos “diferentes” apresentavam características semelhantes às do pisa-n'água Phalaropus tricolor, ou seja, bico mais fino e comprido, pernas curtas, coloração cinza clara nas costas, etc. Como não tenho experiência com este maçarico (pisa-n'água) na natureza, resolvi consultar alguns amigos ornitólogos para obter mais informações sobre esta espécie e tentar concluir com mais embasamento a identificação destas aves.

Conversei com o André De Luca (SP), Luciano Lima (RJ), Vítor Piacentini (de SC, atualmente em SP), Fernando Straube (PR) e com o Prof. Luís Fábio Silveira da USP. A opinião destes colegas foi unânime, todos condordaram ser mesmo indivíduos de Phalaropus tricolor, pelas imagens analisadas.

Depois de receber a colaboração de tantos especialistas, agrupei as informações disponibilizadas e comparei com as anotações de campo, percebendo que todas as observações feitas batiam mesmo com Phalaropus tricolor, inclusive o comportamento de alimentação, observado em campo. 

Com tudo isso, consegui finalizar com segurança a identificação destas aves.
Os dois indivíduos do pisa-n'água Phalaropus tricolor 
(são as aves menores, com pernas mais curtas) entre um grupo 
com 4 maçaricos-de-perna-amarela Tringa flavipes.
Portanto, depois de uma semana de estudo, de longas conversas com especialistas e insistentes visitas de campo para fazer novas imagens dos maçaricos, podemos dizer que fizemos o primeiro registro documentado (disponível na literatura) do pisa-n'água Phalaropus tricolor para o Estado de São Paulo, acrescentando assim, mais uma espécie na lista das aves do município de São Paulo.
O pisa-n'água Phalaropus tricolor é considerado um visitante setentrional, ou seja, esta ave migra no norte da América do Norte para o Sul da América do Sul e utiliza estas lagoas para descansar e se alimentar.

Os indivíduos registrados em São Paulo estavam com plumagem de descanso reprodutivo. Nossas observações de campo foram feitas apenas no domingo (30/09/07), retornamos nos dias seguintes ao Parque e os maçaricos não estavam mais por lá.
Os dois indivíduos do pisa-n'água Phalaropus tricolor 
separados por um maçarico-de-perna-amarela Tringa flavipes (localizado no centro)
Gostaria de destacar o processo cauteloso que adotamos para identificar estes maçaricos, isso é muito importante dentro da ornitologia, assim como a documentação do registro.

Estamos em pleno período de migração, os maçaricos já estão pelos brejos da cidade, temos que ficar de olho, ir para campo neste período e tentar fazer novos registros.
Os dois indivíduos do pisa-n'água Phalaropus tricolor 
se alimentando na lagoa do PE do Tietê.
As espécies mais comuns nesta época do ano na cidade são: maçarico-de-perna-amarela Tringa flavipes, maçarico-solitário Tringa solitaria e maçarico-grande-de-perna-amarela Tringa melanoleuca.
Obs: as imagens não estão com uma resolução muito boa, pois são imagens de registros e foram ampliadas para melhor visualização das aves.

Fabio Schunck
fabio_schunck@yahoo.com.br

Um comentário:

  1. Genial Fábio.
    Esse seu trabalho persistente de reastrear os migrantes, especialmente os aquaticos, sempre nos traz grande surpresas!

    Parabéns

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