Foto: Guto por J. Quental |
ENTREVISTA
COAVE: Quando e como surgiu o seu interesse pelas aves?
GUTO: Desde criança. O fato mais antigo de que me lembro foi aos 7 anos. Ganhei um concurso de desenho de aves e recebi um diploma assinado pelo John Dalgas Frisch. De modo geral sou observador de natureza, observo nuvens, estrelas, vento, rios e a passagem do tempo. As aves são belas e diversificadas, seu comportamento é sempre intrigante, além disso eu respeito as aves pois são descendentes dos dinossauros e de tão inteligentes que são, aprenderam a voar...
COAVE: Para você, qual a forma mais prazerosa de registrar as espécies de aves observadas? Com binóculos, câmera fotográfica ou filmadora? Por quê?
GUTO: Com os meus sentidos, na verdade. Ver, escutar, na impossibilidade de voar... Nada substitui o prazer de identificar uma espécie em campo, ou na cidade. Para mim ocorre uma identificação com a ave, não da ave. É o grande barato. Eu vôo junto com cada urubu que observo. A tecnologia utilizada pouco importa, todas vão ficar obsoletas mais cedo ou mais tarde...
COAVE: Na sua opinião, a pessoa que , oferece água com açúcar aos beija-flores, ou frutas e/ ou sementes para outras espécies, pode ser considerada Observador de Ave?
GUTO: Sim, com certeza. Ao alimentar uma espécie, seja beija-flor ou sanhaçus, a pessoa já demonstra seu interesse. Quando alimentamos uma ave é porque desejamos ela por perto, para que? Para observar, mesmo se o motivo alegado for "caridoso" ou meio preocupado.
Se houver interesse em identificar a espécie, ainda que toscamente podemos falar de observação. Diferenciar, o de rabo comprido, do tesoura e do verdinho e o de bico torto. É assim que começa-se, não tem saída. Esse é o observador realmente iniciante, e temos que cuidar dele, oferecer informações, estímulos, valorizar.
COAVE: Como profissional da área de comunicação, o que é necessário para que a atividade de observação de aves no Brasil se torne mais popular por aqui?
GUTO: Em primeiro lugar entender que a observação no Brasil será diferente aqui do que é em outros países. Cabe mudar o olhar e deixar de parametrar se pelos observadores e turistas estrangeiros.
Devemos também derrubar o estereotipo do “observador esquisitão”. Verificar como a OA tem se tornado estilo e tendência. Trabalhar o perfil do observador moderno, cool. Esse movimento é global e o novo perfil naturalista está em plena ebulição. Devemos apresentar essa face ao público trabalhar o aspiracional de nossa atividade. Mostrar os nossos valores e qualidades.
Finalmente não podemos perder de vista que uma relação de admiração e respeito com a natureza, surge no contexto de valores não consumistas, de uma educação de qualidade, de civilidade. Pode ter certeza que o caminho é longo e complexo. Mas temos tido avanços significativos.
COAVE: Sabemos que a idéia do AVISTAR surgiu através do grupo de discussão Ornitobr. Como ocorreu o planejamento da primeira edição do evento? Você utilizou algum evento como modelo? Quem o ajudou nesta empreitada?
GUTO: Difícil citar nomes pois poderia ser injusto, afinal são tantas pessoas. Pra lembrar apenas os da primeiras hora: Tietta, o Fernando Straube, O Luiz Fernando Figueiredo, Daniel e Granville, Martha Argel, Fernanda Mello e tantos outros... No âmbito das instituições temos o CEO, a SAVE Brasil, Fundação Florestal, AvisBrasilis e o SENAC.
A inspiração sempre foi a Britsh Bird Fair e do VoegelFest de Amsterdam não apenas como modelo de feira, mas como modelo de público. Avistar nesse sentido não é uma feira para observar aves e sim para congregar a comunidade, oferecer infomação de qualidade para o público especializado e divulgar a atividade.
COAVE: Como surgiu a idéia de integrar um espaço exclusivo para as crianças dentro do AVISTAR?
GUTO: Avistar é um evento de público, geral e especializado. Por isso fazemos no Parque. Para alcançar o máximo de pessoas. Avistar é uma celebração da natureza e da relação com a natureza, assim sendo, tem que ter atividades para todos....dos profissionais super especializados e aos diletantes, a velha guarda e aos newbies, fotógrafos e gravadores, adultos e crianças. Alem disso educação é uma espécie de poupança, previdência. Criançada é o futuro, simples assim. Investimento para o futuro, esses serão os birder (nosso público) de amanhã. Sem contar o enorme prazer que isso gera.
COAVE: Como acontece a escolha dos temas abordados todos os anos no evento?
GUTO: Exsite um Conselho informal do Avistar. Um grupo de pessoas que orienta as diretrizes ano a ano, sugere o homenageado, consolida os temas a abordar, sugere convidados e atividades alem disso, como todo o trabalho do Avistar, é uma realização voluntária.
COAVE: O AVISTAR já é um evento consolidado dentro do cenário ornitológico brasileiro, depois de seis edições realizadas com sucesso, o que você pode nos falar desta conquista.
GUTO: Muito trabalho e investimento de tempo e recursos, ainda temos muito para melhorar. Em 2011 conseguimos incorporar uma mostra de arte naturalista, esse era um sonho de longa data.
COAVE: O concurso fotográfico AVISTAR traz todos os anos belíssimas imagens. Existe a intenção de reunir estas belas obras, futuramente, em um livro?
GUTO: Já desejei bastante isso, mas hoje em dia eu creio que o modelo de publicação mudou radicalmente. Não sei se investiremos esforços em um grande livro fotográfico, a função do concurso é o estímulo à observação e conservação. Aparentemente a circulação da expo é mais efetiva nesse sentido. Alcança milhares de pessoas e é um evento importante nas cidades onde chega. Gostaria sim de melhorar o esquema de circulação e permitir que mais pessoas possam ver e se interessar pelas aves.
COAVE: Qual a sua opinião sobre utilizar como ferramenta de Educação Ambiental o tema “Observação de Aves” dentro das escolas?
GUTO: É super válido. As aves despertam o amor à natureza, em oposição aos apelos consumistas e informacionais a que as crianças estão permanentemente submetidas. Podemos considerar que observação de aves como uma oportunidade de “educação naturalista” e de permitir vivências e experimenciar uma relação concreta com a natureza. Vou além. Se a educação ambiental não contemplar práticas de relação com a natureza, como observar aves, nuvens, insetos etc... ela corre o risco de se tornar uma educação para o consumo consciente. Não que isso não seja importante mas criar uma relação de amor com a natureza é a moto da transformação do comportamento. Afinal deve se conhecer e gostar para querer conservar.
COAVE: Existe alguma ave que você gostaria muito de avistar? Por algum motivo especial?
GUTO: Difícil dizer... gosto de todas, não sou um lister... Obviamente os grandes rapinantes... são sempre um prazer.
Mensagem final:
Birdwatchers will save the world
Precisamos de uma nova consciência com a natureza. Esse é o ponto. Sendo assim meio louco passarinhando, a gente espalha a mensagem do respeito e gratidão pela natureza. É como se fosse uma religião, um missão que temos para o resto do mundo. E assim agimos, assim seguimos nessa viagem, fazendo que cada dia mais pessoas observem as aves livres e passem a incorpora-las no seu dia-dia.
Fonte: COAVE
03/09/2011
Site: Avistar Brasil
Muita saúde ao Guto.
ResponderExcluirGuto, acabei de associar-me ao CEO, e lendo agora essa sua reportagem que muito me emocionou, (porque me identifico com cada parágrafo) desejo cumprimentá-lo por esse grande amor e respeito pela natureza e principalmente pelas aves!! Um grande abraço Guto e que Lindo Trabalho! Célia Moretti.
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