Domingo, um grupo de pessoas irá ao Parque do Ibirapuera por uma razão muito especial. Não será pelas ladeiras que convidam à prática do skate, tampouco por causa das quadras ou da ciclovia. O objetivo é olhar para o alto. Eles tentarão ver pelo menos parte das mais de 170 espécies que habitam o local. O passeio, para iniciantes, começa às 8h e integra a programação da Avistar 2012, encontro brasileiro de birdwatching (observação de pássaros), em parceria com o Viva Mata 2012, evento de defesa da Mata Atlântica.
A ornitóloga e PhD em Ecologia Martha Argel e o ativista inglês David Lindo, o ‘The Urban Birder’, vão mostrar como fazer a aproximação e darão detalhes sobre as espécies. Haverá atividades parecidas no Parque Villa-Lobos (amanhã e domingo, às 9h) e no Parque Vila Guilherme – Trote, na zona norte (domingo, às 8h).
Martha Argel e David Lindo (foto: arquivo de Martha Argel) |
Paixão
Observador que se preze não mede esforços para ver uma ave. O sargento da Polícia Militar Fábio Ferrão Videira, de 39 anos, conta que já teve de ficar imóvel por cerca de 15 minutos à beira de um lago só para se aproximar de um saí-azul. “Para quem está imóvel, é uma eternidade”, diz o observador, que já chegou a enfrentar aranhas e cobras só para conseguir ver a ave que desejava.
Fábio Ferrão e o colega Ricardo Pires |
A artista plástica June Rodrigues Alves, de 62 anos e birdwatcher há 20, conta que uma vez foi com amigos a Campos do Jordão (SP) em busca do papagaio-de-peito-roxo. “A gente chegou às 5h, aquele frio horroroso. Eram 8h, e nada.” Então, pegaram o caminho de volta. “À beira da estrada, lá estavam eles, nas araucárias.”
Birdwatcher há 25 anos e um dos fundadores do CEO (Centro de Estudos Ornitológicos) de São Paulo, o médico Luiz Fernando Figueiredo, de 62 anos, é uma referência quando o assunto é avifauna. Já listou mais de 500 aves no Estado de São Paulo e reconhece com facilidade as espécies. “As pessoas acham excêntrico ser um observador”, diz. Hoje, segundo a Avistar, o Brasil tem cerca de 3 mil birdwatchers. A maior parte homem, com curso superior e pós-graduação e das classes A e B.
Parte da equipe do CEO - (foto: Silvia Linhares) |
Ferrão e June são seus colegas no CEO. June já nem consegue andar na rua distraída – tanto que só no seu bairro, o Brooklin velho, listou cerca de 70 espécies – que devem entrar em seu livro de pinturas. “Qualquer pessoa pode ser observadora, da janela de sua casa. Em meia hora, vai ver umas dez espécies”, diz.
“A família acha que a gente não é muito certo da cabeça”, brinca Ferrão, que se formou em Biologia só por causa desse hobby. Mas a história que ele gosta de contar é a de um suiriri-cavaleiro que viu perto de Sorocaba. “Normalmente, a gente segue os pássaros, mas desta vez, ele nos seguiu.” Ferrão arriscou uma aproximação com o animal silvestre e ele passou, manso, pela palma da sua mão estendida no chão. “Isso compensa dinheiro gasto, as viagens, o tempo de dedicação. Isso vale tudo.” ::
GISLAINE GUTIERRE
gislaine.gutierre@grupoestado.com.br
Publicado originalmente em http://blogs.estadao.com.br/jt-cidades/passeio-no-ibirapuera-ensina-a-ver-passaros/ em 17 de maio de 2012 | 23h07 |
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