domingo, 21 de outubro de 2007

Patos, pedras e comida temperada a fogo de lenha, no Vão da Babilônia.

Chegamos já bem tarde da noite no Vão da Babilônia. Acompanhando os faroletes do carro do Klaus, que gentilmente se dispôs a nos levar, pelos sinuosos trajetos das montanhas, tivemos, como primeira visão desse paraíso, a quase completa escuridão.
Foto: Luiz Fernando Figueiredo
Acordamos com a algazarra das criações, em sua pacífica convivência...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo
... e com o canto de diversas aves que, confiantes na inofensividade dos moradores do lugar, misturam-se aqui aos animais domésticos, como o canário-da-terra...
Sicalis flaveola. Foto: Arthur Macarrão.
... que se confunde com as cores do pomar...
Sicalis flaveola. Foto: Luiz Fernando Figueiredo
... o tico-tico-do-campo...
Amodramus humeralis. Foto: Arthur Macarrão.
... o irrê...
Myiarchus swainsoni. Foto: Arthur Macarrão.
... e o papa-capim-de-costas-cinzas.
Sporophila ardesiaca. Foto: Arthur Macarrão.
E só então, o sol já alto pela demora de nosso descanso, e os cavaleiros já de partida para a cavalgada...
Vinícius. Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
pudemos contemplar esse exuberante cenário...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
...e constatar que ali todos os olhares se enfeitam com essa inabalável moldura...
Macarrão fotografando. Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
... de contrafortes e escarpas, ladeiras e despenhadeiros.
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Nossa primeira aventura foi aceitar o desafio da escalada do morro Santa Maria...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo
Mas antes, preparando o fôlego, uma estratégica parada para observar uma das jóias do lugar.
Bico-de-agulha-de-rabo-vermelho, Galbula ruficauda. Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
E depois enfrentar a ladeira...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
...onde mãos ancestrais, dificultando ainda mais esse árduo trajeto, construíram a “Muralha da Babilônia”.
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Pedras, pedras, pedras...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
E lá no alto, deslumbrados com a amplidão dessa paisagem...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
... e afetados, quem sabe, pela influência mística da altitude, nos perdemos, cada um por um caminho.
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Onde estarão?
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Nessas alturas, nos campos rupestres, a vida é árdua! Sol e vento castigam continuamente a teimosia desses pioneiros...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
... que mesmo assim, ainda florescem...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
... e perpetuam sua genética...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
... mesmo que timidamente...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
... se adequando à secura desses lugares, ...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
... mas sempre com excepcional beleza.
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.

Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
E basta um olhar mais atento e poderemos ver aqui a fronteira da vida!
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
E, se nos humilharmos de joelhos, como se quiséssemos, imitando o apóstolo, nesta terra deixar depositado um beijo, veremos que naquilo que parecia simplesmente um árido chão em que pisamos, vicejam exuberantes florestas fractais.
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Blocos de pedra ainda resistem como monumentos, protegidos por um manto de vida.
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Mas nessas paragens inóspitas, a regra é a solidão...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.

Foto: Luiz Fernando Figueiredo.


... e, somente nos grotões protegidos, a vida consegue mostrar pujança, nos convidando a ir ali conhecer os seus segredos.


Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Morro, morro, morro... pedra, pedra, pedra...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Tudo por aqui testemunha a demora que se esperou antes que se montasse esse fantástico cenário.
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Ilesos, ao final dessa cruzada, tivemos a recompensa de um descanso na cachoeira...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
... e a reposição das energias perdidas com a singela comida temperada com o calor do fogo a lenha.
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
De volta ao nosso serviço técnico, ficamos horas à margem do ribeirão Grande, na esperança de ver o pato-mergulhão, preciosidade maior dessa Serra da Canastra, mas nada mais vimos que seu abundante e bem camuflado alimento.
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Também, com aquele mesmo objetivo, eu e Macarrão percorremos boa parte do ribeirão Galheiro em seu recôndito vale.
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Mas em vão. Apenas o Adilson, graças a sua vocação trófica pela submersão...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
... viu sózinho chegar bem perto dele, vadeando pelo ribeirão, a tão esperada família, que logo, ao ver em seu habitat tão inesperada aparição, e tão estranha à filogenética desse lugar, deu imediata marcha-à-ré, perdendo-se rapidamente a montante.
Mergus octosetaceus. Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Mas ave é o que não falta por essa Babilônia! Facilmente denunciados por seus característicos ninhos, pudemos ver esse casal de cochichos...
Anumbius annumbi. Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
... e esse outro casal de joão-de-paus que, discretos em sua mineiridade, não quiseram fazer pose para uma foto.
Phacellodomus rufifrons. Foto: Arthur Macarrão.
No caminho pudemos ver também casas antigas cobertas com pedras.
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Pedras, pedras, pedras...
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
À noite, disputando os insetos atraídos pelas luzes do pátio com um sapo-cururu, um bacurau-da-telha se fartava.
Caprimulgus longirostris. Foto: Arthur Macarrão.
Novo dia, novas esperanças: como pescadores abnegados, fomos fazer novas esperas à beira do ribeirão. Algumas aves logo vieram nos distrair, como se quisessem desviar nossa atenção de nosso principal objetivo.
Pula-pula-de-barriga-branca, Basileuterus hypoleucus. Foto: Luiz Fernando Figueiredo.

Trinca-ferro, Saltator similis. Foto: Arthur Macarrão.

Tucano-de-bico-verde. Ramphastos dicolorus. Foto: Arthur Macarrão.


Por fim, lá vêem eles novamente, à deriva da correnteza... Ao nos verem, invertem calmamente o curso de seu nado e novamente lá se vão...


Mergus octosetaceus. Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Corremos então pelo campo adjacente e, esgueirando por trás de um arbusto à beira do riacho pudemos ver, por uma fresta entre a folhagem, o descanso da família!
Mergus octosetaceus. Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Pudemos então, aliviados por termos a sensação de nossa plena missão cumprida, compartilhar à vontade por poucos mas intermináveis minutos, a fraternidade desse convívio.
Mergus octosetaceus. Foto: Arthur Macarrão.
E, quando novamente a família mostrou-nos preferir a intimidade de seu intocado refúgio...
Mergus octosetaceus. Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
... sentimos que era a hora de também nos irmos.
Foto: Arthur Macarrão.
Nos últimos preparativos para nosso retorno, percebo que um sentimento que julgava meu exclusivo, era na verdade coletivo: de já sentirmos todos, saudades de um lugar do qual sequer ainda havíamos saído.
Foto: Luiz Fernando Figueiredo.
Agradecemos penhorados ao Werner que, mesmo à distância, desde o início zelou como um heróico comandante, pelo bom êxito de nossa missão. E ao seu filho, Klaus, providencial guia. Ao Antonio Belchior, que em nossa rápida passagem por Passos para o jantar, já nos deu uma amostra da gastronomia que nos esperava por esses dias, com um típico “frango caipira com arroz”. A Gisele, bióloga apaixonada pela preservação da Canastra, pela visita que nos fez na Pousada e por valiosas informações sobre a Babilônia. E ao Reinaldo, maestro da Pousada Babilônia, e a toda sua orquestra, que mostrou-se, todo o tempo em que estivemos lá, como fiéis vassalos de nossos desejos.

Texto: Luiz Fernando Figueiredo.
Fotos: Luiz Fernando Figueiredo e Arthur Macarrão Montanhini.

2 comentários:

  1. Parabéns,

    O relato está emocionante!!!
    A viagem deve ter sido melhor ainda!!!

    Viva o CEO!

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  2. Ler este relato foi meu melhor momento do dia. Maravilha. Obrigado e parabéns.
    Luiz Álvaro
    surucua.blogspot.com

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