quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Estivemos em Itereí

Saíra-militar.
Estivemos em Itereí, no município de Miracatu. Uma propriedade em meio à mata atlântica, no ponto em que a rodovia Regis Bittencourt começa a descer a serra. Dispõe de 4 casarões com varandas, lembrando aqueles de velhas fazendas, além de um chalé e outras construções de serviço. 

Os casarões, um tanto rústicos, mas muito acolhedores, com fogões de lenha e com possibilidade de se dormir também em colchões extras dispostos em mesaninos, alcançados por toscas escadas de eucalipto. 

Itereí ganhou notoriedade na imprensa e no meio jurídico por ter sido o motivo de uma ação propondo uma solução alternativa para o projeto de duplicação da rodovia naquele ponto, já que este originalmente previa uma segunda via distante da atual, pela parte alta dos morros, o que comprometeria sem dúvida diversos dos cursos d’água da região, além de expor áreas protegidas da mata primária à presença humana. Itereí ficaria ilhada entre as duas pistas da rodovia. A proposta alternativa prevê a duplicação ao lado do curso atual, em área já impactada. 

Contra argumentam que o trecho continuará perigoso e acarretará atrasos nas viagens. Faz-me lembrar de uma trilha turística de Camboriú, onde um magestoso tronco inclinado de uma árvore foi mantido em meio à trilha, obrigando-nos a nos curvarmos para ultrapassá-lo e nele foi pendurada uma placa: “Curve-se à Natureza”. Talvez se esses burocratas de gabinete fossem levados para fazer um pouco desse exercício, tivessem, ao fazer seus projetos, um cuidado melhor com esses lugares.


Área de um dos casarões, com piscinas.
Há diversas trilhas, que permitem visitar os diversos ambientes do lugar, além das clareiras das áreas das construções, com suas fruteiras, lugar de fácil visualização de traupídeos diversos, chamando a atenção a frequência da saíra-militar, Tangara cyanocephala, que sem dúvida ganharia um concurso de símbolo desse lugar. 

Numa das clareiras, surpreendemos o merecidamente chamado de gritador, Sirystes sibilator e aí mesmo, no mesmo lugarzinho da mata onde a tínhamos ouvido em outubro de 2002, continuava presente a galinha-do-mato, Formicarius colma.

Gritador

Pelos caminhos, pudemos contemplar também outros animais, como essa que parece ser a jararaquinha, Xenodon neuwiedii, mordendo um sapo que tinha dez vezes o tamanho de sua cabeça!

Benedito
Numa das trilhas assistimos o show de um irritado verdinho-coroado, Hylophilus poicilotis, que, não fosse termos atingido o limite de tempo que consideramos ético de play-back, teríamos trazido ao limite de foco de nossos binóculos.
Nos dias 2 e 3 de setembro vimos ou ouvimos 98 espécies de aves, dessas, 9 com algum grau de ameaça de extinção. 

Três dessas visualizadas com grandes detalhes, como a choquinha-de-peito-pintado, Dysithamnus stictothorax, que saiu da mata para fazer uns poucos segundos de seu “Cirque du Soleil”, eriçando as penas e deixando cair as asas, como um filhotão pedinchando. 

Também os tímidos primos-irmãos choquinha-pequena & choquinha-cinzenta, como uma dupla caipira, pulando freneticamente para lá e para cá, sob a luz dos flashes.

Verdinho-coroado

Isso é Itereí, um lugar que resiste ao limite da civilização, defendendo com garra o que sobra atrás de si, que os nativos de lá chamam de “o sertão”.

Texto: Luiz Fernando Figueiredo
Fotos: Gilberto Lima


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